6 de dezembro de 2014

Qual a Meditação que pratico e ensino?


Recebo email's e mensagens a perguntar que género de meditação eu pratico...

Bem, para começar, é preciso ter em conta que eu não aprendi em escola nenhuma a meditação - a vida, a necessidade e a prática ajudaram-me a descobrir o caminho para a meditação.

A minha descoberta no campo da meditação deu-se quando um dia sentindo algo que não me pertencia e confirmado posteriormente pela senhora que acabava de conhecer, tive necessidade de perceber para que servia tanta sensibilidade que eu tinha e que teimava ignorar ou fugir da mesma.

Nesse dia chego a casa e desesperado, pois já sabia que tudo estava dentro e que só deveria olhar para dentro... mas sempre que o tentava antes adormecia... sentei-me, fechei os olhos e jurei a mim mesmo só abrir os olhos quando desse de caras com o meu Eu interior ou com a consciência plena do que sou...

... e assim foi!
Após cerca de duas horas e meia,depois da minha mente ter tentado fugir do momento quinhentas mil vezes... depois de tentar esconder-se dela própria ou tentar arranjar artimanhas e justificativas para sair dali... cansada só teve um remédio - entregar-se apenas ao observar - e foi aí que experimentei a sensação que denomino como 'orgásmica'... apenas estava... apenas observava... apenas 'boiava' sobre mim mesmo...  havia largado todas as cordas.. todas as amarras e tentativas de controlo... e ali estava eu... em mim... onde o tudo e o nada se fundem... onde o espaço e o tempo são um só...

Após esta descoberta, percebi que para construir capacidades e condições para sentir estas sensações e consciência mais tempo, teria de arranjar uma estratégia para facilitar a lembrança e criar um novo acontecimento ou registo na minha mente. Tendo em conta que era super indisciplinado, pensei que fazer meditação para outros me iria ajudar a lembrar da necessidade que tinha em construir esta lembrança em mim... obrigando-me a trabalhar nisso. Além disso, sabia que não seria o suficiente... e tinha algo que falava mais alto - jamais queria voltar a viver o mesmo que vivi aos 16 anos - isso obrigava-me a caminhar, por menos resultados que encontrasse. Decidi implementar a meditação pela manhã e ao deitar, mas até fazer 3 dias seguidos passaram quase três meses... pois havia sempre uma desculpa para fugir à regra.
Até que deixei de lutar para alcançar isso... e simplesmente aceitei o facto de que, se não fazia, não fazia, já passou... 

O que é certo é que ao facilitar meditação para grupos, e estar no papel de terapeuta que orienta, cuida e trata, obrigava-me a estar mais e cada vez mais presente e próximo da essência da verdade que habitava na meditação - e isso fez-me incorporar lentamente o hábito diário.

O trajecto que percorri até criar o hábito...

1º Descobri a sensação orgásmica
2º Decidi facilitar meditação para grupos, porque me ajudaria a manter presente a lembrança disso
3º Percebi que não era suficiente facilitar e comecei a tentar fazer diariamente
4º Percebi que o melhor horário seria ao acordar e ao deitar. Ao acordar porque a mente está fresca sem informação e ao deitar, como se fosse um acto de arrumação.
5º Havia temporadas que conseguia fazia um dia e uma manhã e depois esquecia.... e ficava dois ou três dias sem fazer. O grande passo foi quando consegui fazer 3 dias seguidos - lembro-me da sensação - Uau! Como é bom estar organizado e sobre rodas!
6º Ao perceber esta dificuldade, tive que me debruçar sobre o que me impedia de fazer tudo isto acontecer - e aí percebi a influência do meio, dos horários e de todas as ligações próximas ao momento em si.
7º Percebi que a melhor forma de concretizar e fazer acontecer é não lutar... porque enquanto lutamos, manifestamos a essência do não acreditar. Devemos apenas aceitar e esperar pelo próximo momento e não insistir.

Passo a passo fui desenvolvendo hábitos e uma consciência cada vez mais plena e clara relativamente a esta disciplina e percebi o meu desenvolvimento...

O caminho até hoje...

Comecei com a meditação básica normal guiada, seguindo um pouco os passos do Dr. Brian Weiss. Onde levava as pessoas aos jardins, a visualizar cenários paradisíacos e a resolver as suas questões - depois percebi que os resultados eram apenas no momento e pouco duradouros. Pois o facto de distanciar a pessoa de si mesma, só estamos a criar condições para ela perder o rasto na volta e no regresso a si!

Depois de ter percebido que esta meditação ficava muito aquém do que acreditava e sentia em mim, decidi investir na meditação em movimento e criei a Liberdanza. Através da música e do movimento as pessoas seguiam a orientação do professor e ausentavam-se do frenesim natural mental.

Em simultâneo e nas meditações mais serenas, comecei a direccionar a meditação apenas para o momento e para  corpo. Pois sabia que quanto mais a pessoa se mantivesse no momento, e com a atenção no seu corpo e na sua existência mais facilmente iria encontrar a paz. Lentamente comecei a introduzir meditações activas, onde a expressão através do som e do movimento eram o farol para a paz.

E foi aqui que numa palestra, onde fazia meditação descobri como poder levar as pessoas ao ponto zero. Já tinha implementado o som da alma, que é cantar sem nexo e entrar na sintonia do grupo, quando uma voz dentro de mim dizia : 'Grita Silêncio' ... e eu já fiel a tudo o que a minha alma me dizia - gritei Silêncio - e Uau... sentiu-se uma espécie de queda.... e lá estava ele... o PONTO ZERO.

A seguir, e porque a Liberdanza me mostrou a origem da meditação em movimento, comecei a sentir necessidade de fazer algo mais pausado, coordenado com a respiração e seguindo as orientações do meu próprio corpo - surgiu o Ceushi - que é algo semelhante ao Yoga, ao Tai Chi, ou Chi Kung.

A seguir e completando um círculo importante na minha vida, descobri que cantar mantras nos levavam à consciência plena e à capacidade maior em permanecermos em observação atenta e presente, e desde então é a meditação que faço.

Poderíamos dizer que o meu percurso espreitou várias escolas e linhas espirituais. Poderia dar um nome à minha meditação sabendo que poderá ser exactamente o que algumas escolas praticam. Mas não seria fiel a mim mesmo, pois fui eu que a descobri em mim e a desenvolvi com a minha persistência e teimosia em ser fiel a mim mesmo!

Mas só experimentando poderá perceber o que aqui escrevo!

Até já ;-)

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