19 de dezembro de 2020

O relógio do universo. O movimento da vida.

Desde os tempos mais antigos e desde que nos sabemos humanos pensantes e lógicos, que olhamos os céus com profundo respeito, curiosidade e até algum misticismo devido à sua imensidão e desconhecimento do mesmo.

Através dos movimentos cíclicos dos astros, percebemos que o próprio céu/universo tem vida própria e o seu próprio ritmo. Como nunca poderíamos provar o que veio primeiro, se a galinha ou o ovo, então decidimos criar estratégias na observação do universo, tendo por base a consciência que temos de nós próprios aqui, como humanos.

Criámos os signos, demos nomes às constelações e aprendemos a ler os seus movimentos. Aprendemos a associar os movimentos dos astros com os nossos próprios movimentos terrestres e inventámos a astrologia e tantas outras abordagens ao universo.

Com tanto entusiasmo e envolvência, esquecemos que a existência da própria estrutura interpretativa do universo, nasceu da mente humana, condicionada e projetada de acordo com a sua perspectiva limitada e exata.

Sedentos e saudosos da morada principal, ao que chamamos 'fonte', deslizámos na corrente dinâmica do ego, esquecendo que talvez o mais importante fosse ser, em vez de procurar corresponder ou fazer parte.

Hoje, naquilo a que chamamos de despertar e expansão de consciência, incluímos a influência dos astros como principais comandantes de toda esta conjuntura ilusória, quando foi da mesma conjuntura que a sua própria definição emergiu.

Tudo está certo. O próprio universo tem o seu próprio relógio e velocidade. Cada um de nós, em si mesmo, representa uma expressão única desse mesmo universo, livre e com o seu próprio ritmo. Mais importante que responsabilizar os astros pelo nosso comportamento, é assumir e aceitar a possibilidade que tudo não passa de um jogo dramático do ego identificador. E, que o próprio universo nada tem a ver com o que somos e fazemos como «egos» ou humanos, mas sim com o que somos e fazemos como expressões ou centelhas puras do próprio universo.

Há centenas de anos que aspiramos a materialização daquilo a que chamamos de «destino óbvio» - a experiência real da verdadeira essência que nos sustenta como existências espirituais. Desejamos de alguma forma que, uma força maior que a nossa própria força se movimente e crie aquilo que na nossa mais pura e profunda essência almejamos - a experiência aqui na terra, da totalidade do que somos como existências de alma viva e eterna. Ou por outras palavras, a expressão viva de Deus. E sem nos apercebermos, acabamos por abafar a possibilidade de nos lembrarmos que JÁ O SOMOS em tempo real, aqui e agora, em cada pulsar... em cada pensar, sentir ou movimento.

É certo que, ciclo após ciclo, temporadas após temporadas e episódios após episódios em toda esta conjuntura humano-ilusória, referimos estar à beira de uma transformação profunda e real... vivendo o tempo ideal para que isso se possa manifestar. Não fosse essa a essência da própria consciência do tempo real, entre o acontecimento homem e o acontecimento universo, já teríamos mais que razões de sobra para sermos livres, inteiros e viver num mundo de paz e amor e reconhecer esse 'deus' como algo natural e real.

Sim, é certo que os nossos ancestrais, mais próximos da ligação realmente fidedigna à vida, à terra, e ao sentir, souberam abrir as portas da lógica e da explicação sóbria para o nosso acontecimento aqui. Mas, não deveríamos nós ter aproveitado isso para hoje podermos viver na plenitude daquilo a que chamamos verdade essencial? O que foi que nos escapou? Porque será que continuamos com o mesmo sentimento de que 'o futuro' próximo é que será o 'certo' para expandir consciências e mudar o que queremos ver alterado no mundo?

Não será a nossa demasiada arrogância enquanto seres pensantes, que nos inibe de alcançar a verdadeira razão pela qual estamos aqui? Não será esta dinâmica permanentemente ativa do ego que nos envolve e mantém no jogo da ilusão?? Porque será que ainda não entendemos que o próprio universo está e é em nós, e que o modo como influencia o nosso rumo enquanto humanos na terra, depende ele também da nossa própria e única interpretação como seres individuais e como um todo coletivo?

Os ciclos dos astros sempre existiram e sempre irão existir. Os seus alinhamentos, conjunturas, movimentos e danças celestiais, far-se-ão acontecer para todo o infinito, respeitando apenas a sua própria dinâmica de movimento natural. Continuando e perpetuando as suas luminosidades, explosões e ações, com a naturalidade e verdade da sua própria essência como universo vivo em movimento. 

Nós, aqui na terra, humanos que observam e pensam, somente nos limitaremos a conjugar padrões e ciclos com as vontade e desejos do ego que ambiciona o retorno a casa. Conjugações que sempre farão sentido de acordo com a nossa própria evolução de consciência, que se traduz como um produto somente nosso! Porque na verdade, haveria justificação para desejarmos 'voltar a casa', se a vivêssemos neste agora que nos assiste?

Esta ideia de que 'está para chegar o tempo da verdade', ou que 'está para se formar a conjuntura ideal para a mudança que queremos ver no mundo, não passa de mais uma estratégia cobarde do ego individual e coletivo em permanecer na condição de prisioneiro de uma ação que o pode transcender a si mesmo!

Com tudo isto, acredito que, sim estamos ligados e SOMOS UM, como humanos. Tal como o próprio universo está ligado entre si e é UM em si mesmo. E tal como nós estamos ligados ao próprio universo através das nossas percepções e conjunturas idealísticas. Mas que, no final, só a nós caberá a possibilidade de definirmos e ajustarmos o nosso destino como humanos aqui na terra. O próprio universo já se definiu... e na sua harmonia 'in-conceitual', fazendo-se acontecer cumprindo o seu propósito principal - existir!

Desde os tempos dos meus avós, ou seja, desde que me conheço como gente, que ouço histórias de 'fim do mundo', ou de que algo se irá alterar em data X ou período Y. As mais recentes e bem badaladas teorias do 'fim' foram a do ano 1999 para 2000 e depois de 2011 para 2012. Agora, e porque coincidentemente a humanidade já tinha esquecido o que era viver a nível global uma ameaça eminente à sua espécie (sempre nos julgámos superiores e indestrutíveis), o ano de 2021 avizinha-se como o ano de revelação máxima... e da ascensão a algo maior, não fosse esse ano correspondente ao ano que se segue a uma experiência atípica da humanidade - 2020, o ano que nos obrigou a rever os nossos moldes de vida e prioridades. O ano que nos fez perceber que, somos meros figurantes de uma grande representação em que o papel principal ficou entregue ao equilíbrio e harmonia entre todas as partes envolvidas.

Portanto, vamos deixar-nos de merdas e preconceitos baratos e acabar de uma vez com esta condição que nos mantêm reféns de nós próprios e aceitar que, apesar de estarmos num cenário que nos mantém ligados a tudo e a todos, pela consciência, discernimento e inteligência, cabe a cada um de nós traçar o seu próprio destino e criar o seu próprio relógio rítmico de vida. Porque alinhamentos, constelações, movimentos dos astros sempre existirão e nós não!

Joaquim Caeiro - o Pensador

6 de dezembro de 2020

Vida e Morte

 

Vida e Morte

Existe um pulsar de vida constante em cada um de nós, que não nos deixa acreditar que existe um fim. Sentimos, vivemos e experienciamos cada momento na ilusão de que temos todo o tempo do mundo para chegar onde queremos chegar… e ser o que desejamos ser. Mas, tudo não passa de uma ilusão! Ilusão condicionada pela necessária limitação do ego criador, para que possamos ser ‘pessoas’ aqui.

Em cada pulsar, retemos parte do cosmos em nós.

Em cada sentir, consciencializamos parte do universo em nós.

Em cada suspiro, expandimos parte do Deus em nós - esse famoso criador que também cria, destruindo.

Quem somos nós afinal aqui, senão meras existências animadas pela razão e condicionadas pela voz interna do coração?

Quem somos nós afinal? O que somos nós?!

Somos apenas formas de vida como tantas outras.

Somos como a árvore, como a flor, como o gato, como o cão, como o oceano, como a floresta – somos, na sua essência apenas VIDA!!!

O que nos define e distingue das demais formas de vida, é a consciência, a capacidade de raciocínio e a noção que temos disso mesmo.

Mas, será isso uma vantagem, ou uma ‘maldição’?

Ao sentir, ao saber que sentimos, ao tomar consciência e ao ser em ou fora dessa mesma consciência, abrimos portas ao bem-estar, à felicidade, à alegria, à irmandade, à vida. Mas também, abrimos portas à sombra, à infelicidade, à guerra e à morte.

Então, talvez exista algo a perceber em todo este cenário caótico impermanente ao qual chamamos vida – se nos foi dada a possibilidade de viver cientes do que somos e/ou podemos vir a ser, então estará implícita, mesmo que de forma subtil e disfarçada, a capacidade de assumir o comando no que diz respeito ao que fazemos com a vida e consequentemente com esta personagem a que chamamos ‘eu’.

Inevitavelmente, quer queiramos ou não, ou saibamos lidar ou não, dentro de cada um de nós existe uma noção de ‘fim’. Mesmo que teórica e aparentemente longínqua, todos sabemos que um dia esta experiência terá um fim! Mas quando? Porquê? Que sentido todo este caos cria para que cheguemos à necessidade de refletir sobre a nossa missão aqui?!!

Peritos na criação de fugas, mestres na elaboração de estratégias para fugir ao sofrimento perpétuo, criámos o ‘além’, como lugar onde se dará o encontro com todos os que já deixaram esta experiência! Mas… até isso é a expressão mais pura de um ego iludido pela necessidade de criar conforto e apaziguamento interior.

Hoje e todos os dias da nossa vida, infelizmente, lembramos aqueles que mais amamos e que já não estão entre nós. Hoje e todos os dias, saberemos, no mais profundo do nosso ser que esses, que já se fundiram com o ‘além’… o ‘céu’ ou retornaram à fonte primordial, mais do que nunca residirão bem dentro de nós, no nosso coração e na nossa lembrança. E só essa certeza temos!

Então, talvez seja importante começar a olhar para a vida como um simples suspiro, um simples pulsar, um simples sentir, que nunca se repetirá! Talvez seja necessário e «urgente», aprendermos a VIVER o melhor e total de nós o mais possível, para que possamos reter o melhor e maior de todos os que mais amamos em nós, no caso de uma partida, que será sempre inesperada e sofrida.

Sempre que a morte me surge por perto, seja por alguém que ame, ou alguém que conheça e estime, sou levado ao silêncio da consciência, esse lugar onde apenas cabe Deus e Eu. E relembro que, tudo não passa de uma ilusão, tudo não passa de um jogo, em que a personagem, as regras do jogo e o próprio jogo são o próprio Deus e Eu – UM SÓ!

Depois de vários contactos próximos com a morte, aprendi/relembrei/criei a crença de que, a vida é apenas vida. A vida é somente um pulsar existencial, tal como o que acontece com a flor, com a árvore e com todas as formas de vida. O único aspeto que a torna diferente para nós, é a possibilidade de termos consciência da mesma.

Então a morte, é o abandono do papel… a saída do placo… o fim da representação do guião, por esta personagem que ganhou um nome, um eu, uma história e um propósito, instituídos pela própria consciência de si mesmo e por todas as consciências à sua volta.

Não existe destino – isso é algo criado por nós mentes conscientes.

Não existe um propósito ‘especial’ – isso é criado pelo nosso ego fazedor.

Não existe uma condição especial para os humanos, como experiências vivas – isso é apenas fundamento da ilusão da separação pela consciência ou, neste caso falta dela!

Somos e vivemos o fruto das nossas escolhas e ações. Escolhas e ações que podem ganhar um sentido completamente diferente se o alinhamento da verdade mais pura em nós for vigente e real. Sabendo que, mesmo assim, não invalida que, nesse alinhamento não exista a possibilidade de eu terminar este artigo e cair para o lado completamente inanimado!!

Por isso, escolho viver em verdade, na crença que Deus e o ‘além’ está e é em mim neste momento. Escolho viver a experiência desta personagem chamada ‘Joaquim’, com todo o amor e gratidão, na consciência das suas sombras internas e elevando sempre e cada vez mais a sua luz maior. Escolho viver a consciência da essência da própria vida, já que na morte essa consciência não existirá! Escolho e com orgulho me tenho como um simples pulsar existencial semelhante a qualquer outro ser vivo… porque ser além do ‘humano’, ser além do ‘ego’, permite-me saborear a verdadeira essência do aqui e agora.

Sê. O resto são detalhes!

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