6 de janeiro de 2016

A Meditação e a Manipulação


Desde os tempos mais antigos que se conhece esta disciplina, que só agora está a ganhar um lugar de respeito perante a nossa sociedade. A Meditação é talvez a única forma que nos leva à lembrança de quem somos na realidade - a origem, a fonte, o primordial.
Acostumados a estar em 'cima do acontecimento', mal percebemos que a meditação se tornaria uma tendência válida no futuro, tratámos imediatamente de a colocar na prateleira dos 'produtos' mais rentáveis para o negócio e mais do que isso, torná-mo-la num mecanismo impulsionador para a manipulação subtil do subconsciente.

Começando pelo principio...
Quando comecei a navegar nesta realidade, após o meu contato com o orgasmo de consciência - onde me foi permitido perceber que estar em paz, em sossego, através da simples observação da minha existência, me permitia reunir todas as condições para viver plenamente o momento e o agora - percebi que quanto mais o praticasse mais presente estaria em mim e tendo em conta que era um indisciplinado por natureza, optei por começar a facilitar meditação para amigos, pois sabia que ao fazê-lo mais perto estaria da lembrança da sensação que havia experimentado.
Mas a verdadeira tomada de consciência do que começava a ser a meditação, foi quando me entreguei por completo a esta forma de estar e ser - quando despertei aos 33 anos. 
Nessa altura fazia meditações guiadas do género 'básico'. Orientava a meditação usando visualizações idilícas, paisagens maravilhosas que a minha imaginação inesgotável me mostrava no momento da sessão, ações que envolviam emoções - género reconciliações, perdão, abraços aos pais, e afins... - e tinha a sala sempre cheia. Até que um dia percebi que existia uma meditação mais profunda e verdadeira do que aquela que acreditava que era a mais certa e a verdadeira! Uma meditação que me mostrava um estado muito mais sossegado... muito mais 'nada' , do que a meditação que ocupava a mente a criar mais histórias...

Com esta descoberta, só tinha duas hipoteses - ou continuava a  contar histórias e tinha sempre a sala cheia de pessoas, ou começava a abordar a nova consciência que havia espreitado e corria o risco de não ser entendido na totalidade - mas como navegante na verdade e já desperto para a realidade da existência, ou seja, estando já em paz e amor - só me era permitido uma escolha - optar pela evolução ... pelo próximo passo!

E foi quando dei esse passo que percebi verdadeiramente o grau de manipulação em que me encontrava - que apesar de se tratar de uma 'manipulação para o bem estar interior', não estava separada do próprio mecanismo em si.
Percebi que contar histórias, após um relaxamento, levava as pessoas a viver momentos de paz e tranquilidade, mas a criar um momento 'fechado', ou 'isolado' - em que elas sabiam, no seu mais profundo conhecimento que só encontrariam aquela paz quando viessem ter comigo e ouvissem as minhas histórias.

Era urgente mudar a 'técnica', pois apesar de eu já estar na consciência que sou paz e amor, naquele tempo, naquela altura da minha caminhada, era necessário dar passos, pois sabia que o despertar tinha sido apenas o inicio da grande caminhada até ao meu centro.
Foi por essa altura que criei a Liberdanza - a arte de movimentar o corpo ao ritmo da respiração, criando sequências repetidas em meditação. 
Depois da Liberdanza, criei o Ceushi - a meditação em movimento que se baseia em movimentos lentos sincronizados com a existência e com o agora (género Tai Chi e Yoga). A seguir, numa das palestras descobri o poder da ordem 'SILÊNCIO' e 'STOP' ou 'VAZIO' ou 'NADA'. Após este tempo e muito próximo, surgiu o Som da Alma - a meditação que envolve a expressão do som único  de cada um - e lentamente ia misturando todas as consciências e exercícios que ia experienciando. De seguida e através da prática do Ceushi, conheci os mantras e desde então foram adoptados para as meditações como motor impulsionador para a quietude no centro. Mas apesar de todos estes passos, ao fim de quase 12 anos de andanças no campo da meditação, posso dizer-vos que existe sempre mais um passo a dar ao que podemos chamar de centro - que na verdade é sempre uma ideia disso, enquanto existir identificação e conceitos associados. Mais importante, e como instrutor/professor/facilitador, ou alguém que acredita estar desperto e em paz, cabe-me alertar-vos para a importância de mantermos viva a verdadeira essência da meditação, senão podemos arriscar-nos a criar mais um potencializador para a continuidade da competição, e da procura da felicidade no exterior!

Sim, podemos levar a meditação às escolas, mas para trazer de volta a essência primordial da criança, o original a autenticidade, não para criar mais e melhores condições para que as nossas crianças possam interiorizar melhor o conhecimento estúpido que apenas serve para abafar a originalidade do ser.

Sim, podemos levar a meditação às empresas, mas para elevar a existência humana em si mesma, não para ajudar a criar mais facilmente robots de produção com fins exclusivos de lucros.

Sim, podemos fazer fazer meditação de todas as formas, se soubermos no final desmontar o mecanismo - que de tão subtil passa tão despercebido - que continua a manipular-nos para mais uma crença... para mais um conceito... para mais uma dependência!

Acorda!

Meditação não é um estado mental é algo que não podes 'ter'... algo que não podes identificar 'além' de ti - pois é em si mesma a essência do acontecimento...

Meditação é uma ação de retorno a casa... ao centro, à lembrança de que somos a fonte de todas as possibilidades.

Meditação não é projetar a tua atenção para fora de ti e sim para dentro.
Meditação é estares quieto em ti, sem identificares essa quietude... porque se estás nela e és essa quietude, não a poderás ver... 

Estou disponível para aulas individuais / orientação para te ajudar a construir o melhor trilho nesta caminhada - sejas facilitador, ou um simples curioso, ou alguém que precisa de clarear a mente - estou aqui!

Até já!

Abraço-te com o coração

jcaeiro@live.com.pt

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