1 de novembro de 2018

Espiritualidade sem Religião é o caminho (parte I)

Espiritualidade, ou 'actualização do espírito', é um conceito que tem vindo a  mudar ao longo dos anos da nossa existência como humanos inteligentes.

Se antes associávamos espiritualidade a uma igreja, religião ou seita, hoje, felizmente começamos a encarar 'espiritualidade' cada vez mais próxima da sua essência original - livre e real.

Devido aos saltos quânticos internos que a humanidade deu dentro de si mesma - cansada de ser mutilada, enganada, manipulada e ultrajada - abrimos o coração à possibilidade de nos termos enganado durante milénios, no que toca ao caminho para a paz e amor. São cada vez mais os adeptos de uma filosofia espiritual ou de desenvolvimento humano mais limpa, livre de conceitos castradores e limitadores.

O percurso
Sinto-me feliz e ao mesmo tempo orgulhoso, de todo este percurso que escolhi fazer em mim, com o mundo, contigo e com tudo. Ao olhar para trás, vejo-me a 'testar' a minha existência nas suas mais variantes possibilidades evolucionais.

Oriundo de uma família pseudo-católica (digo pseudo, porque se praticava a crença teórica, mas não existia prática assídua), aprendi a ver a vida como a  maior parte de nós - com um 'Deus' a guardá-la e a geri-la! Um Deus que, se foi alterando ao longo dos anos de experiência em mim.

Lembro-me em pequenino, quando a minha mãe me dizia que Deus tinha barbas brancas e que estava de olho em mim, eu imaginava-o sentado no céu a olhar para mim. Nas trovoadas, a minha mãe dizia que era Deus a ralhar connosco e eu perguntava - mas que mal fiz eu para tudo isto??

A atracção por algo maior, que na altura não sabia o que era, fez-me procurar respostas e perceber a verdade associada a esse sentimento. Comecei pela igreja. Aprendi a tocar viola, comecei a dar catequese (uma catequese um pouco alternativa, pois criava as histórias à minha maneira 😏), fiz o crisma, a profissão de fé e quase tombei para o sacerdócio (que desgraça seria se o tivesse feito... 😜). A minha fé, apesar de se expressar junto da igreja, estava 'mais além' - em algo que não era uma imagem, um sermão, uma oração ou uma acção determinada associada à igreja. Hoje, ao olhar para trás, percebo que a minha fé estava associada à essência humana, ao tal Deus, mas que vive dentro de cada um de nós e está presente em todas as coisas, porque todas as coisas somos nós!

Após o período da igreja e perceber que existia muita incongruência entre o que se professava e o que se fazia no dia-a-dia, investiguei uma série de outras religiões, filosofias e práticas religiosas espirituais.

A minha ligação tão natural e intensa à terra e ao simples, faziam-me sentir incompleto, quando estava perante uma expressão de fé associada a uma igreja ou determinada religião. No entanto, não sabia exactamente o que era verdadeiro... sabia que estava lá, mas não o conseguia ver com clareza!

Aos 16 anos, num retiro da igreja de 4 ou 5 dias num mosteiro em Vila Viçosa, vivo experiências únicas no que toca à dimensão do contacto humano real. Para um adolescente que vem de uma família em que o pai é alcoólico, a mãe submissa, agressões e falta de manifestação de afecto directo, uma experiência deste género é realmente um oásis! Ainda me lembro do momento em que, uns tocavam viola, outros dançavam, outros lavavam a loiça, outros secavam, outros arrumavam - e tudo numa sintonia tão perfeita e amorosa, que me fazia sentir pleno e super feliz. (algo que serviu de inspiração para os meus retiros no Monte da Fonte).

Saí desse retiro com o coração cheio. A dimensão da minha fé estava diferente e sentia-me capaz de enfrentar o mundo!!

Chego a casa, entusiasmado e ansioso para partilhar o que vivi naquela experiência, mas não me sinto ouvido e fico triste. Agora ao escrever tudo isto, percebo que, talvez tenha sido essa quebra emocional que me fez explodir e ficar sem controlo no que dizia e fazia. 
Uns dias, após esses momentos, acordo e sinto-me tal como no retiro - pleno e cheio de amor - mas na posse de algo maior ainda! Sentia-me como Jesus (o Jesus que eu sempre imaginei - humano sensível, amoroso e conectado com tudo e todos).

Os meus olhos viam amor. As minhas mãos tocavam amor. Os meus passos e movimentos eram amor. A brisa era amor. O cheiro, por mais nauseabundo que fosse, era amor - tudo era amor!!

Como se, de repente tivesse 'caído' para o meu poço interno emocional, e me tivesse perdido no turbilhão de emoções, crenças e registos representativos da minha realidade individual e única. A referência máxima de amor, naquele momento era Jesus, portanto eu acoplei-me a essa crença.

Fui dado com louco, apesar de tudo o que dizia fazer sentido e tocar os corações - e eu pensava: 'Como é possível que algo tão real e intenso seja rejeitado e ignorado? Como é possível que estas pessoas não consigam aceitar a possibilidade de falar mais nisso e expressar mais isso aos outros?!'

A minha mente, naquele instante, estava em estado alfa-teta, um misto de relaxamento aprofundado com uma consciência subtil. Uma espécie de véu que se tinha colocado à frente da minha visão interna e me fazia agir completamente desenquadrado deste tempo e realidade.

Fui medicado e sujeitado a tratamento médico intenso. Lembro-me da sensação de 'aprisionamento' da minha liberdade interna, sempre que uma injecção ou tranquilizante começava a fazer efeito. Uma liberdade que, apesar de parecer louca, era onde me sentia pleno e conectado ao amor puro. Os espasmos resultantes dessa reacção eram dolorosos, do ponto de vista emocional... uma tortura autêntica!

Fugi vária vezes. Descalço, vestindo por vezes o pijama, ou pouca roupa e apenas uma gabardine castanha que me reportava ao efeito túnica. Descalço porque queria sentir a terra - como se algo me chamasse de lá!!

Tudo isso atingiu o seu auge quando subo às muralhas do castelo de Monsaraz, e com os pés à beirinha da muralha, abro os braços, grito, choro e expresso a minha gratidão pela sensação que estou a viver. As pessoas pensavam que me ia suicidar!! Mas na verdade, estava a tratar do meu renascimento sem saber. Naquele momento - sensação que hoje se mantêm viva -, senti-me ainda mais conectado com tudo... tudo era perfeição absoluta, eu era aquelas campos, aquelas planícies e montanhas... era aquelas casas, aquela brisa que me abraçava... 
Foi após esse momento de catarse que tomei a decisão de morrer.

(Anos mais tarde, aos meus 40 anos, já estando desperto, consigo perceber a associação e semelhança entre o meu comportamento e o comportamento de Francisco de Assis, quando é retratado no filme a subir ao telhado por 'nada'!)

Deixei-me levar para casa, como quando Jesus é levado a ser julgado. Permaneço em silêncio. Apenas o meu olhar e o meu sorriso falam. As pessoas tentam extrair palavras da minha boca, mas era tarde de mais - havia percebido que aquela grandiosidade que estava a sentir não estava à altura de pessoas demasiado envolvidas em padrões limitativos de personalidade, por isso permanecia em silêncio.

Cheguei a casa, tomei banho, fiz a barba, vesti o pijama e deitei-me na cama de barriga para cima, com as mãos na barriga em descanso, e lembro-me do momento em que fechei os olhos sorrindo pensando, agora deixa-te ir... e confia!!

Foram cerca de 40 dias de cama. Apenas uma ou duas pessoas me conseguiam fazer comer. Estava decidido a morrer, pois não me sentia parte desta realidade.
E eis que, ao penúltimo dia, sou puxado através de um túnel afunilado. Colocado em frente a uma parede castanha com caracteres e símbolos. E é aí que acedo àquilo que hoje chamo - deus interno!

Nessa viagem interna, tomei consciência do que sou, como humano e de que existe apenas uma única oportunidade para fazer acontecer esta personagem chamada Joaquim com estas características. Foi isso que me fez voltar de novo à vida e lutar para poder viver esta experiência aqui de forma digamos 'mais normal'.

Essa 'visão', ou experiência-quase morte, é hoje a minha estrutura de segurança real - eu sei porque vivi, senti. Mesmo que isso tenha sido uma criação da minha consciência mais subtil, é algo que me reporta ao que está antes de mim... antes da personagem, antes da história deste 'eu' - e por isso, dá-me descanso!

A partir desse momento, no que toca à fé e às minhas crenças, uma parte de mim segurava fielmente tudo o que tinha vivido. Como se quisesse guardar, sabendo da sua importância. Outra parte de mim tornou-se mais inquisidora e desconfiada!

O percurso de auto-descoberta teve o seu auge aos 33 anos. 
Dos 16 aos 33 anos, tentei ser uma pessoa normal, ignorando grande parte de sensações e emoções que habitavam e habitam em mim. A experiência foi de tal ordem intensa que só a palavra 'Jesus', me modificava e tinha de accionar mecanismos interno extra, para me controlar e não voltar à postura de 'profeta'!

Conheci religiões, filosofias, práticas espirituais de todos os géneros. Fiz questão disso, pois não queria falar e opinar sobre o que não conhecia! Mas foi na simplicidade de uma palavra, dita por uma negra super, hiper-querida e amorosa, com um charuto na boca, que me abriu o coração e me fez perceber que estava no momento de seguir a minha fé e expressar uma vida com espiritualidade livre, onde a religião não fazia sentido.

Obviamente, e por segurança, tive que testar a minha estrutura emocional-espiritual e energética, no que toca à forma como me poderia manifestar. Apesar de sentir a presença do amor, não queria descontrolar-me ao ponto de sair para a rua e abordar as pessoas como um profeta ou um 'Jesus'.

Hoje, após 11, quase 12 anos, de vivência em paz e amor, posso dizer-te que, o verdadeiro caminho para a paz e amor, é a espiritualidade sem religião. Questionei várias vezes, colocando-me à prova, se tudo isto não era uma reacção do meu ego - mas em cada vez que o fiz e faço, o retorno é sempre o mesmo - se sou... se existo... se olho e sou eu que olho... se vejo e sou eu que vejo... se falo e sou que falo... se imagino e sou eu que imagino - então sou eu o criador! Tudo começa e termina em mim, e no momento que não começar não sou 'eu' - e será aí que serei o verdadeiro!! Até hoje, nada me demoveu desta forma de ser estar - pois só isto faz sentido para mim!

Sim posso estar enganado e louco, mas antes isso do que sofrer como sofria em constante questionamento e procura!!

Por isso, volto a referir - já o fiz várias vezes ao longo destes anos - os gurus tem os tempos contados. As religiões que manipulam milhares de pessoas, estão a começar a infectar-se com o virús da verdade e só vamos ganhar com isso!! Merecemos viver plena liberdade em verdade, em vez de tentar viver a liberdade salpicada com conceitos e paradigmas que só aprisionam a verdade original de cada um! Mas tudo está certo e tudo faz sentido e parte da nossa evolução como humanos. Mas é tempo de dares/darmos um passo em ti/nós e fazeres/fazermos um pouco mais do que sabes/sabemos que estás/estamos a fazer por ti/nós - sem tetas, sem filtros e sem desculpas ou alibis

Na segunda parte deste artigo, irei fundamentar esta visão.

Por hoje, fico por aqui! Lembrando-te que, viver uma vida livre, em paz e amor, seguir uma fé ou espiritualidade sem religião, acarreta mais e maiores responsabilidades pessoais - não fazes parte nem segues religiões, mas terás de sentir-te parte delas em simultâneo - é a única forma de darmos o salto quântico enquanto humanidade em evolução, de outra forma estaríamos a julgar e a deixar um legado para trás de 'pseudo-verdade'!

Até já!

Abraço-te 💓

Joaquim Caeiro
Treinador do Corpo e da Alma | jcaeiro@live.com.pt

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