12 de março de 2016

Porquê viver no básico?

Até aos 15 anos vivi no campo, rodeado pela mãe terra e por animais.
3 irmãos - eu o mais velho, vivi experiências que me tornaram uno com a existência mais pura e simples.
Lembro-me dos piqueniques ao domingo, o prazer que todos tínhamos em comer no campo e saborear os alimentos com outro gosto e prazer. Lembro-me das manhãs de sábado, quando soltávamos os animais e especialmente na altura de ninhadas, dava gozo e alegria ver cada espécie com a sua ninhada atrás - os perus e as suas crias, os gansos e as suas crias, os faisões e as suas crias, os pavões e as suas crias, as galinhas, os patos mudos... enfim, era uma festa!
 
Naquele ambiente eu encontrei a essência mais pura da vida.
Aprendi a escutar o coração da mãe terra :-) ... a falar com os pássaros - quantas vezes adormecia debaixo de uma alfarrobeira e quando acordava estava rodeado de animais - abria e fechava os olhos, pois parecia-me irreal, mas eles estavam lá...
Aprendi a escutar a voz da alma e a deixar a imaginação fluir - qualquer forma de vida ganhava a sua importância - fosse a formiga mais pequenina, à flor mais frágil ou a árvore mais antiga.
 
Deitava-me a olhar o céu... e pensava, como seria bom voar, ser um ´pássaro, uma águia e ser livre nos céus.
 
22 dias bastaram para que eu resgatasse totalmente essa essência.
Aos 33 anos, na experiência em cuba, eu senti-me verdadeiramente a viver uma experiência do género, com a única diferença que era adulto - e isso despertou-me e fez-me conhecer a paz e o amor, que Jesus, Buda, S. Francisco de Assis e tantos outros falaram.
 
Não fazia ideia da minha ligação a esta essência pura.
Quando me chamavam, 'por engano' (como ainda o fazem), Francisco, não fazia ideia de que a vibração que sentiam estava associado à energia da mensagem de alguém que viveu na simplicidade, como Francisco de Assis.
Em Cuba, em 2007, uma mãe de santo diz-me - depois de uma experiência de 20 dias em partilha de amor, na simplicidade e no básico dos básicos - que eu trazia comigo uma energia muito forte de Jesus e que era Francisco, depois de Jesus! Quando ela me diz 'Francisco' algo acontece dentro de mim - e de repente todas as peças do puzzle se juntam. Não que fosse importante o 'Francisco', mas naquele exato momento, entendi o que se encontrava por detrás do mecanismo que fazia com que as pessoas me chamassem por engano, Francisco - e despertei!
 
 
Como a grande providência divina prepara tudo em detalhe - 7 anos após o meu despertar, vou celebrar o meu aniversário em Assis - o local onde S. Francisco viveu.
E é quando acontece uma espécie de catarse de amor. Reconhecimento de lugares, energia familiar, como se sempre tivesse vivido ali - tal como foi quando fui a Cuba a primeira vez - e no sepulcro, tudo culminou com a explosão do coração.
Ao entrar naquela capela, onde está o tumulo de Francisco, senti, ao nível da consciência mais pura, muito dentro, além tudo o que possa controlar seja o que for, a nível mental, uma espécie de 'voz' que me dizia baixinho - 'reconheceste e conseguiste dar com o caminho de volta e chegaste!' - mesmo que isso seja uma analogia à minha caminhada interna em direção a mim mesmo, algo em mim pulsava mais forte e mais presente - era como se uma célula de Francisco se reavivasse em mim e de repente eu olhava com os seus olhos  sentia com o seu coração - algo arrebatador e alucinante, ao nível da consciência.
 
Deixei que a missa terminasse, e aproximei-me do tumulo.
Ao tocar aquelas pedras enormes, senti-me a atravessá-las e a reconhecer aquele vazio como parte de mim. O meu coração abre-se, como as bonecas russas, e milhares de outros corações surgem de dentro do meu, numa explosão de amor, que me fez ajoelhar, colado ao tumulo soluçando a chorar de tanto que sentia.
 
Cada passo na minha vida, parecia ter sido previamente programado e estava a cumprir-se - como agora neste exato momento!
 
Aos 16 anos acreditei que era Jesus - senti a explosão desse amor, que não consegui segurar e me levou à rua a abordar as pessoas. 40 dias de cama, por recusar viver, numa sociedade que não em entendia. No penúltimo dia sinto-me a ser 'sugado' por uma espécie de túnel afunilado e sou colocado em frente a uma parede, com carateres e símbolos, que ao olhar para eles entrava em universo infinitos de consciência.
Percebi o que era - soube naquele instante que eu não era a personagem, a identidade, a mente e sim o que estava para além disso - a consciência pura - aquela que não tem nome. O que me fez entender que viver, estar vivo, é uma oportunidade maravilhosa de experienciar em consciência no mundo da forma tudo isso.
Agarrei-me à vida novamente. Mas fiquei com a ideia e convencido que iria morrer aos 33. Descartei, pois associei a Jesus. Mas aos 33 eu despertei - ou seja morri simbolicamente, para a identidade e tornei-me existência consciente do que sou.
Aos 40 anos vou a Assis e vivo a experiência que referi atrás. Agora, prestes a ir de novo a Cuba, encerro um ciclo de 9 anos da minha existência, onde tudo se completa e me surge o puzzle montado, verificado, e polido!
 
Experimentei a fama e a popularidade. Mas percebi que para ser a essência da verdade, em exemplo, só poderia sê-lo na experiência real.
Sei que a abundância e tudo está à minha disposição, mas sei que é necessário construir um mundo baseado no simples e lembrar o ser humano que a vida é muito mais do que ter.
 
Ao longo de 4 anos em experiências em retiros no Monte da Fonte (na minha casa do Alentejo), tenho vivenciado a possibilidade de ser livre até do alimento. E sei, por minha própria experiência que é possível viver da luz.
Num processo gradual e respeitando o meu corpo, ao mesmo tempo que me observo e testemunho todo o processo interno de integração e adaptação, para que possa ser um exemplo vivo e real, ao encontro do natural e não apenas mais um que se tornou 'iluminado' e especial, entrego-me lentamente à verdade primordial e à criação de condições para ser completamente auto sustentável.
 
Ser o exemplo é ser um instrumento da paz e do amor.
Não que tenha de o ser, mas que por opção, e por toda a minha história pessoal, vai mais ao encontro do que me preenche.
 
Não sigo religião nenhuma, apenas sou em mim. Todos os que se aproximam é isso que percebem - podem ser eles próprios em si mesmos!
A vida despojada de S. Francisco, está-me nas células, algo demasiado enraizado para eu ignorar. Como o andar de bicicleta -  aprendes e nunca mais esqueces!
 
Por isso, procuro uma aldeia abandonada, onde possa concretizar esta ideia.
Pegar nas pessoas que vivem nas ruas e reeducá-las para uma consciência que leve à auto sustentabilidade e autonomia.
 
Viver da terra, nada mais quero. Sustentar-me com o que a mãe terra me dá.
Tudo isto porque este despertar me mostrou que eu sou o caminho, a verdade e a vida, ou seja, tudo é em mim e quanto mais sei isso, mais dentro daquele que é infinito e eterno - eu consciência/alma, quero ir!!
 
Queres juntar-te a mim?
Apenas precisas identificar-te com esta minha forma de estar e ser, para que possamos funcionar como irmandade/comunidade ou família de coração.
 
O retiro de 13 dias da Páscoa, é na verdade, uma espécie de estágio para tudo isto.
O jejum, a experiência do crudiverismo (alimentação de crus), alimentação prânica, e tudo o resto que envolve a vivência na fonte, é na verdade, a minha preparação para ser totalmente livre!
 
Um dia, numa agradecimento no fim da meditação dei por mim a dizer algo semelhante à oração de S. Francisco. Isso foi um pouco antes de realizar retiros. As lágrimas corriam, como se de alguma forma tivesse acedido a algo profundo e muito valioso.
 
E é isso que sou e caminho para ser cada vez mais - um instrumento da paz e do amor - um exemplo vivo da verdade!
 
Abraço-te em silêncio
 
 



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