2 de novembro de 2019

Mundos Internos


Parece que nos tornamos repetitivos, mas por vezes, é necessário falar do mesmo tema de várias formas, até que este se integre e se entenda verdadeiramente na nossa mente e vibre no nosso coração.

Tudo é apenas uma ideia... uma possibilidade... uma perspectiva.
O teu relacionamento, a pessoa que amas, o emprego que tens, a vida que conheces dentro de ti, tudo não passa apenas de uma ideia, uma representação que tu próprio criaste ao longo da vida.

Por mais simples que isto pareça, se assumirmos e entendermos que os nossos comportamentos e acções são resultado do que acreditamos, então, ver as coisas nesta perspectiva dá-nos mais responsabilidade e obriga-nos a repensar e a corrigir ou pelo menos ficar mais atentos aos nossos actos. Concordas?

As discussões, os desentendimentos, a falta de conexão num relacionamento por exemplo, é fruto de representações internas criadas acerca da pessoa ou situação.
Quando nos abrimos à possibilidade que tudo é mutável e impermanente, deixamos de ser rígidos e sem graça, e passamos a fluir livremente, dando possibilidade a que todas as representações menos positivas se alterem para o que desejamos... ou, em casos extremos, fazer as opções mais acertadas e sair de cena.

Assumir a responsabilidade sobre a nossa vida é dos maiores actos de coragem do ser humano.
Fomos ensinados e habituados a confiar e a apoiar-nos num 'deus', numa religião, num sistema ou filosofia. Fomos condicionados e instigados a formar uma espécie de dicionário interno de boas maneiras e 'exemplo certo', de comportamentos, estilos de vida e propósitos humanos determinados, tornando-nos robôts, deixando de parte a possibilidade de sermos genuínos e autênticos.
Tudo isto deu origem à grande avalanche de depressões e consequentemente ao enriquecimento da indústria farmacêutica e de todos os meios envolvidos.

Quando descobrimos que tudo começa e termina em nós, percebemos que afinal temos uma parte de 'culpa' no cartório e por isso cabe-nos fazer algo para remediar ou resolver.
Talvez o primeiro passo seja, fazeres isso contigo próprio e com as pessoas que amas.

Como está o relacionamento contigo mesmo?
Como comunicas com o teu eu diariamente? És positivo com ele, ou estás constantemente a inundá-lo de registos depreciativos e limitadores?
Como comunicas com a pessoa que amas? Que ideia tens dessa pessoa que partilha a vida contigo?
Se afinal de contas tudo não passa de uma ideia, essa pessoa pode ser tudo menos o que esperas que ela seja, verdade? Já tinhas pensado nisto desta forma?

Nunca te aconteceu chegar à casa dos pais da tua namorada, com a tua namorada, pela primeira vez, e de repente parece que a tua namorada se 'revela' de forma diferente. Como se algo se alterasse... como se de repente ela se mostrasse por 'inteiro'!! De repente é como se tivesses acesso a uma pessoa completamente diferente...

A sensação pode ser agradável, pois reconhecemos ali uma semelhança - ela um dia foi criança, cresceu, passou diversas coisas até chegar ao ponto onde se encontra hoje - tal como nós próprios!! A sua fragilidade, honestidade, transparência emergem de um cenário que para ti é novo mas semelhante, mas que, para ela é o normal. Tal como pode acontecer ao contrário. Entendes do que estou a falar?

Aí, tu percebes que apenas criaste uma ideia da pessoa que amas, baseada naquilo que conheces acerca dela. Quando existem dados novos, és obrigado a reformular essa concepção, que, umas vezes se revela feliz outras nem por isso.
A ressonância que sentimos uns com os outros... a energia que dizemos sentir na presença das pessoas, é criada a partir de todo este processo de associação.

Todos os nossos relacionamentos são criados tendo por base uma determinada ideia que criamos das pessoas. A sua figura, o cenário onde as conhecemos, o primeiro registo do primeiro momento, tudo implica na criação de uma determinada referência para a criação de uma representação interna da pessoa. Tudo não passa de uma ideia que construímos acerca da pessoa, nunca e repito NUNCA conseguiremos VER e SABER a pessoa por completo na íntegra.
O mais próximo que conseguimos é quando nos conectamos à pessoa reconhecendo partes de nós e ressoando com a sua forma de ser e estar, mas mesmo assim, tudo não passa de projecções do nosso ego, procurando salvar-se...mimar-se e ser válido aqui. (óptimo tema para escrever depois 😏 )

O mesmo acontece com a vida e com as situações que vamos vivendo.
A ideia ou representação que criamos das coisas, está directamente associada aos vários elementos que a compõem - cenário, emoções, experiência, cores, temperatura, forma...
Tudo se cria a partir de um determinado principio lógico progressivo criador - havendo uma referência base anterior, o alicerce da representação será criado, influenciado por isso. E na verdade tudo se resume a isso - a uma ideia... a uma possibilidade.

Por isso cada um vê as coisas de forma diferente.
Quando era criança olhava as pedras da calçada e perguntava a mim mesmo se as pessoas viam o mesmo que eu via e chegava a perguntar. Até perceber que sim, as pessoas viam a mesma forma, tinha a mesma referência-base do objecto/situação/pessoa, mas no seu complexo processamento interior, relacionado com as suas vivências e experiências de vida, criavam o registo daquilo à sua maneira... que era única.

O significado das coisas por exemplo, era outra questão que dançava na minha mente com alguma frequência - 'porque será que uma cadeira se chama cadeira e não outra coisa qualquer?' 
Tudo isto me levou a um turbilhão de possibilidades, que não deixando de ser ideias, me deu abertura, flexibilidade e lucidez para começar a ver a vida, eu próprio e os outros de uma forma muito especial. Se era eu o criador da ideia que tinha acerca do que esta 'afora' de mim e em mim - esse eu que vê... esse sujeito que assume a postura de observador - então eu poderia escolher ver e sentir tudo de forma produtiva, positiva, feliz e à minha maneira!!
Foi aí que comecei a escolher ver AMOR E VERDADE em todas as coisas!
Fosse isso real ou não, pouco me importava, fosse como fosse nunca chegaria à essência por detrás do significado e da identificação, portanto estava a fazer o melhor para mim!
E garantidamente foi isso que me catapultou para SER isso, ou pelo menos viver na crença que sou isso aqui!

Mas como se criam realmente as representações internas das coisas, das pessoas e dos lugares?
Por exemplo, se tiveste uma experiência no passado menos positiva, num cenário que envolvia frio, e formas geométricas estranhas, terás toda a possibilidade de seres influenciado a criar a mesma ideia da pessoa ou situação (mesmo que nunca a tenhas visto) se alguns dos elementos da experiência anterior coincidirem com o momento actual em que te encontras, dando origem ao pré-julgamento.
(Se  o julgamento por um lado é bom, porque nos protege e alerta, por outro, para mentes demasiado complexas e pouco saudáveis, é o ponto de partida para criar uma ideia errada da pessoa ou situação.)

Por isso, nas minhas visitas-retiros a casa das pessoas que solicitam o meu trabalho, uma das minhas primeiras abordagens e tarefas é identificar todos os elementos que afectem directamente a criação da contínua representação interna desfavorável na pessoa. Um simples quadro pode fazer toda a diferença!!

A nossa mente processa as coisas por associação lógica.
O conhecimento adquirido, nada mais é que um registo num arquivo.
A verdadeira tarefa do humano inteiro é poder usar a sabedoria inata e original, oriunda da grande fonte.

Por exemplo, quando te lançam o tarôt (eu comecei a minha jornada lançando as cartas de tarôt e por isso sei do que falo), cada carta representa uma vertente... uma possibilidade... uma temática. Temática que, naturalmente é coerente com a realidade humana, ou seja, em cada temática, a mente humana reconhece algo que lhe diz respeito.
Até mesmo se as cartas tivessem coisas abstractas, sem qualquer tipo de tema ou definição, a mente, na sua complexa organização e imaginação, a mente, iria arranjar proximidades e semelhanças com algo que é comum, como realidade humana, criando cenários que, por mais abstractos que fossem, dependendo do grau de obsessão do sujeito, assim seria a dimensão da criação.

Portanto, sempre que te dizem algo, seja isso o que for, a tua mente capta e tenta encaixar, dando-lhe um significado - foi para isso que ela foi criada, arranjar significado para as coisas! Então, seja o que for que te digam, fará sentido... e encontrará um 'porto de abrigo'. 
O papel do verdadeiro cartomante, é usar este instrumento para fazer a pessoa falar de si mesma e assumir o que precisa ver e curar, assumindo posteriormente o papel de orientador sóbrio e lúcido. 

Toco neste assunto porque, a formação de uma ideia ou representação interna, tem como base o mesmo processo de assimilação - desde que seja lógico, coerente e encaixe nos princípios básicos da ideia pré-concebida já criada anteriormente, pela via do conhecimento, faz-se acontecer de forma coesa e afirmada, dando origem à crença.

Com tudo isto, quero terminar apenas lembrado-te do seguinte:
- se a vida é uma perspectiva... uma ideia... uma representação, investe o teu tempo na criação de elementos que possam ajudar a criar a melhor ideia
- se o 'outro', que nada mais é que extensão de ti mesmo, pois é criado por ti, é uma criação tua, então escolhe ver amor, verdade e o melhor dele
- se até de ti mesmo, tens apenas uma ideia - nunca chegarás ao 'fundo' e à verdade para além significado/identificação, apenas terás pequenos deslumbres nos hiatos meditativos ou nos meandros da esquizofrenia espiritual natural - então vive-te ao máximo, sendo o melhor de ti em cada momento que é único e irrepetivel.

Se precisares de ajuda diz.

Aguardo feedback. Peço-te que partilhes caso faça sentido para ti.

Amor e paz em ti 💗

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