Vida e Morte
Existe
um pulsar de vida constante em cada um de nós, que não nos deixa acreditar que
existe um fim. Sentimos, vivemos e experienciamos cada momento na ilusão de que
temos todo o tempo do mundo para chegar onde queremos chegar… e ser o que
desejamos ser. Mas, tudo não passa de uma ilusão! Ilusão condicionada pela
necessária limitação do ego criador, para que possamos ser ‘pessoas’ aqui.
Em
cada pulsar, retemos parte do cosmos em nós.
Em
cada sentir, consciencializamos parte do universo em nós.
Em
cada suspiro, expandimos parte do Deus em nós - esse famoso criador que também
cria, destruindo.
Quem
somos nós afinal aqui, senão meras existências animadas pela razão e
condicionadas pela voz interna do coração?
Quem
somos nós afinal? O que somos nós?!
Somos
apenas formas de vida como tantas outras.
Somos
como a árvore, como a flor, como o gato, como o cão, como o oceano, como a
floresta – somos, na sua essência apenas VIDA!!!
O
que nos define e distingue das demais formas de vida, é a consciência, a
capacidade de raciocínio e a noção que temos disso mesmo.
Mas,
será isso uma vantagem, ou uma ‘maldição’?
Ao
sentir, ao saber que sentimos, ao tomar consciência e ao ser em ou fora dessa mesma consciência, abrimos portas ao bem-estar, à
felicidade, à alegria, à irmandade, à vida. Mas também, abrimos portas à
sombra, à infelicidade, à guerra e à morte.
Então,
talvez exista algo a perceber em todo este cenário caótico impermanente ao qual
chamamos vida – se nos foi dada a possibilidade de viver cientes do que somos e/ou
podemos vir a ser, então estará implícita, mesmo que de forma subtil e
disfarçada, a capacidade de assumir o comando no que diz respeito ao que
fazemos com a vida e consequentemente com esta personagem a que chamamos ‘eu’.
Inevitavelmente,
quer queiramos ou não, ou saibamos lidar ou não, dentro de cada um de nós
existe uma noção de ‘fim’. Mesmo que teórica e aparentemente longínqua, todos
sabemos que um dia esta experiência terá um fim! Mas quando? Porquê? Que
sentido todo este caos cria para que cheguemos à necessidade de refletir sobre
a nossa missão aqui?!!
Peritos
na criação de fugas, mestres na elaboração de estratégias para fugir ao
sofrimento perpétuo, criámos o ‘além’, como lugar onde se dará o encontro com
todos os que já deixaram esta experiência! Mas… até isso é a expressão mais
pura de um ego iludido pela necessidade de criar conforto e apaziguamento
interior.
Hoje
e todos os dias da nossa vida, infelizmente, lembramos aqueles que mais amamos
e que já não estão entre nós. Hoje e todos os dias, saberemos, no mais profundo
do nosso ser que esses, que já se fundiram com o ‘além’… o ‘céu’ ou retornaram
à fonte primordial, mais do que nunca residirão bem dentro de nós, no nosso
coração e na nossa lembrança. E só essa certeza temos!
Então,
talvez seja importante começar a olhar para a vida como um simples suspiro, um
simples pulsar, um simples sentir, que nunca se repetirá! Talvez seja
necessário e «urgente», aprendermos a VIVER o melhor e total de nós o mais
possível, para que possamos reter o melhor e maior de todos os que mais amamos
em nós, no caso de uma partida, que será sempre inesperada e sofrida.
Sempre
que a morte me surge por perto, seja por alguém que ame, ou alguém que conheça
e estime, sou levado ao silêncio da consciência, esse lugar onde apenas cabe
Deus e Eu. E relembro que, tudo não passa de uma ilusão, tudo não passa de um
jogo, em que a personagem, as regras do jogo e o próprio jogo são o próprio
Deus e Eu – UM SÓ!
Depois
de vários contactos próximos com a morte, aprendi/relembrei/criei a crença de
que, a vida é apenas vida. A vida é somente um pulsar existencial, tal como o
que acontece com a flor, com a árvore e com todas as formas de vida. O único
aspeto que a torna diferente para nós, é a possibilidade de termos consciência
da mesma.
Então
a morte, é o abandono do papel… a saída do placo… o fim da representação do
guião, por esta personagem que ganhou um nome, um eu, uma história e um
propósito, instituídos pela própria consciência de si mesmo e por todas as
consciências à sua volta.
Não
existe destino – isso é algo criado por nós mentes conscientes.
Não
existe um propósito ‘especial’ – isso é criado pelo nosso ego fazedor.
Não
existe uma condição especial para os humanos, como experiências vivas – isso é
apenas fundamento da ilusão da separação pela consciência ou, neste caso falta
dela!
Somos
e vivemos o fruto das nossas escolhas e ações. Escolhas e ações que podem
ganhar um sentido completamente diferente se o alinhamento da verdade mais pura
em nós for vigente e real. Sabendo que, mesmo assim, não invalida que, nesse
alinhamento não exista a possibilidade de eu terminar este artigo e cair para o
lado completamente inanimado!!
Por
isso, escolho viver em verdade, na crença que Deus e o ‘além’ está e é em mim
neste momento. Escolho viver a experiência desta personagem chamada ‘Joaquim’,
com todo o amor e gratidão, na consciência das suas sombras internas e elevando
sempre e cada vez mais a sua luz maior. Escolho viver a consciência da essência
da própria vida, já que na morte essa consciência não existirá! Escolho e com
orgulho me tenho como um simples pulsar existencial semelhante a qualquer outro
ser vivo… porque ser além do ‘humano’, ser além do ‘ego’, permite-me saborear a
verdadeira essência do aqui e agora.
Sê.
O resto são detalhes!
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