Oriundos
da mesma fonte, nós humanos, dançamos nas mesmas águas da verdade. Cada sentir,
cada expressão, cada acção, revela exactamente o quanto nos lembramos dessa
origem e o quanto ainda estamos disponíveis para nos tornarmos no grande oceano
original da existência, onde cada movimento é livre e autêntico.
Somos de alguma forma, vítimas
de nós próprios. Contribuímos com o que acreditamos para a continuidade do que
já não faz sentido. Adiamos decisões, programa-mo-nos para um estilo de vida
ideal, e na verdade acabamos por não viver o principal da essência da vida –
ser inteiro e livre a cada instante.
Criados numa sociedade
materialista, fruto de tantos anos de carências, conseguimos construir riquezas
e palacetes, mas o mais importante acabámos por esquecer – a construção de
condições para viver o ‘agora’ fluído. Procuramos preencher lacunas que os
nossos antepassados não identificaram, e sem sabermos em vez de nos
relacionarmos, cobramos expressões existenciais que nos lembram o pai ou a mãe.
Felizmente, os tempos são
outros, e começamos a entender um pouco mais da essência da vida. Começamos a
perceber que de nada adianta correr ‘atrás’ ou viver uma realidade ilusória e
de ‘fachada’.
Os
dias de hoje
O mundo, nos dias de hoje,
depara-se com uma grande transformação. Já não queremos mais viver do ‘faz de
conta’, e a verdade lentamente está a vir ao de cima - a mulher, trilha a
passos largos a sua afirmação e estrutura-modelo, enquanto o homem, lentamente
começa a abrir o coração à possibilidade de ser mais sensível e ‘feminino’.
Antes, existiam
relacionamentos baseados no preenchimento de lacunas, produzidas por
transferências inconscientes, hoje, apesar de ainda existirem, começamos a
observar mais relacionamentos baseados em ideais de consciência e ‘estilo de
vida’, implicando a transformação dos envolvidos e a ascensão à lembrança de
que somos únicos e por isso valiosos.
Apesar de tudo, e de existir
de alguma forma uma abertura diferente e uma busca pelo entendimento do
relacionamento, ainda nos confrontamos com uma espécie de ‘praga’ que, de
tempos-em-tempos nos recorda o quanto ainda somos primitivos e arcaicos, no que
toca ao sentir e ao ser – o ciúme.
A
origem e o fundamento do ciúme
Natural e mais frequente no
ser humano, o ciúme é um estado alterado da essência original, no que toca à
forma de nos relacionarmos. A sua origem, basicamente vem do esquecimento de
quem somos e do que somos. Se nos lembrássemos que somos a fonte, a criação e a
origem de todas as coisas na nossa vida, então aí, saberíamos que nada é nosso,
e que tudo é impermanente e temporário. A única condição que nos preenche e faz
verdadeiramente felizes é lembrar que o maior (e único) relacionamento
verdadeiro é o que estabelecemos connosco próprios – porque só isso é real.
O ciúme pode manifestar-se de
várias formas. O homem, como perito em inventar rótulos e criar mecanismos para
se esconder de si mesmo, vai divagando na sua existência, arranjando milhentas
explicações e nomes para os vários estados que manifesta. Quando na verdade,
tudo se resume à necessidade de ser amado e visto!
Desde a sua expressão mais
simples, à expressão mais complexa, o ciúme é um grande aliado da nossa amiga
‘inveja’. A diferença entre eles é que, inveja não implica pertença. O ciúme
envolve a ilusão da posse.
Emoções, pensamentos, reacções
físicas e comportamentos esquizóides,
revelam o quanto o ser humano ainda acontece e se expressa no esquecimento da
sua própria verdade interior. É devido a esse esquecimento que, o ser humano
conhece e experimenta emoções e pensamentos como a raiva, a tristeza,
humilhação, medo e depressão, ressentimento, culpa, necessidade de comparação.
A nível de comportamento e reacção física, pode experimentar a falta de ar,
taquicardia, aperto no peito, questionar constantemente o comportamento do
outro, entre muitas outras reacções naturais do corpo ao afastamento da verdade.
Ao aprofundar cada vez mais o ciúme, podemos até chegar à conclusão
que, este se encontra na origem de quase todos os comportamentos que envolvem
manipulação e procura pelo poder.
O
ciúme tem cura?
O ciúme não existe – tal como
a ilusão de pertença que o origina. Tudo não passa de um conceito, aparte da
verdade mais pura interna da existência humana. Ou seja, se entendermos que a
verdade humana se expressa pela realidade do que somos – luz, perfeição, fonte,
criação, deus - qualquer tipo de comportamento além disso é puro jogo e
entretenimento do ego.
Para tratarmos o ciúme em nós,
precisamos pacificar-nos com tudo o que somos, sentimos e expressamos. E sim
tem cura – pois até o próprio ciúme é um ato de amor, nascido da mesma fonte
que deu origem à liberdade de ser ou ao próprio conceito. Sim, pode curar o
ciúme, a partir do momento em que amar verdadeiramente e incondicionalmente,
tudo à sua volta… a partir do momento em que se lembrar que tudo é uma extensão
de si mesmo. E como pode amar tudo? Vivendo da lembrança de que tudo na vida é
impermanente e efémero.
Amar verdadeiramente é ‘permitir’
que o outro seja o que tiver de ser.
Lembremo-nos de que nós,
humanos, somos como a areia, quando mais se aperta mais se perde!
Ame e será livre! <3
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