16 de janeiro de 2015

Mediunidade e a Existência


Ser médium é natural ou apenas determinadas pessoas o são?
Ser, viver e usufruir das capacidades psíquicas mediúnicas, é uma condição natural ou é algo que se tem de alcançar, construir ou desenvolver?
Qual o papel do ego e a presença da verdade na percepção desta realidade, que nos convida a acreditar que somos mais do que acreditamos ser?

Muito se fala e se vende usando como salvaguarda esta temática.
Uns porque comunicam com entidades que só os reconhecem a eles como portais de entrada para esta dimensão. Outros porque afirmam que Jesus se dirige a eles como os portadores de uma missão, em que afirmam que são encaminhados para falar com A ou B influentes na comunicação social e nos meios mais controladores da sociedade. Já para não falar dos que tem a capacidade de comunicar com extraterrestres, onde relatam histórias que mais parecem filmes organizados pelos caprichos do ego.
Também existem os que acreditam piamente que encaminham almas e os enviam para o 'local certo' - como se fossem detentores de poderes especiais ou como se fossem 'mais' do que essas almas encaminhadas. Com a liberdade de expressão, surgiu uma avalanche de manifestações a este nível e de repente o que antes estava escondido e era considerado duvidoso, passou a ser credível e a base de orientação de muitos.

Chegámos ao ponto de mostrar em directo todos estes poderes - em contacto com o além - em que alguém dotado de um dom especial comunicava com entes queridos já desencarnados.

Será que a existência é assim tão imperfeita que precisa daqueles que procuram a perfeição para ser 'corrigida'? Será que na concepção e 'visão' de Deus ou do Poder Criador supremo, existe diferença ou condições evolutivas para cada alma? .. quando todos somos esse Poder Supremo em manifestação?

Durante anos e anos vivi prisioneiro da crença.
De algo que me ensinaram a acreditar e que por não ter mais nada fui 'forçado' a assumir como real isso. O meu avô contava histórias de bruxas que voavam sobre ele no quarto enquanto ele dormia. Contava que quando namorava com a minha avó e tinha de percorrer km a pé ou de bicicleta, encontrava colchões e objectos estranhos na estrada que considerava que eram entraves e coisas do além para ele ter medo. 
Cresci com a crença de que existia o Diabo e o Deus até sensivelmente aos 7/8 anos.
Ensinaram-me sem saberem, a melhor forma de camuflar os meus desejos e os meus medos numa explicação baseada no além... naquilo que não poderia ser mensurável ou comprovado - porque sou eu tinha o dom de ver e sentir.

Mas no mais profundo do meu ser, as questões nunca paravam.
Eu queria colocar-me à prova sempre. Queria ir a sítios 'assombrados', provar com a minha existência que, afinal tudo o que se via em filmes e em histórias de família eram mais do que simples camuflagens do ego e das emoções recalcadas. No final ficava sempre com mais questões...

Havia muita coisa que não fazia sentido. Sabem a sensação do nome 'debaixo da língua'? Assim estava eu no que diz respeito à verdade sobre esta temática - era como se eu soubesse, mas não conseguia trazer para a realidade o que realmente acreditava.
Uma parte de mim procurava desesperadamente a razão da existência e a outra parte travava-me dizendo subtilmente 'a seu tempo verás o que tiveres de ver'.

Não fazia sentido ir à igreja, bater no peito, dizer 'minha culpa, tão grande culpa' ou 'sou pecador' enquanto observava Jesus crucificado sofrendo - não estaríamos nós a fazer o que ele nos disse para não fazer? Apetecia-me arrancá-lo da cruz e gritar às pessoas - abram os olhos e vejam apenas o amor, a verdade. Sejam responsáveis e fiéis a vocês mesmos e em vez de se assumirem como pecadores, assumam-se o que são na realidade e aceitem isso!

Quantas histórias do sobrenatural eu não ouvi para justificar uma traição ou determinado comportamento? Quantas vezes não me era dito que 'aquela pessoa era assim porque tinha um espírito mau dentro dela? Quantas vezes e não presenciei pessoas próximas a tentar explicar a agressão de outros que amavam, com 'males' que vizinhos invejosos lhes deitavam???

Afinal, tudo era produto de medo - incapacidade em assumirem a verdade e a encarar a realidade em que estavam inseridos e que eles próprios tinham escolhido.

A minha mãe levava-me a senhoras 'vertuosas' como se chama no alentejo e todas diziam que eu tinha um poder fora do comum. Muitas fechavam as portas na minha cara com medo, como se tivessem visto algo estranho e perigoso para elas.
A minha mãe levava-me lá, porque eu questionava  e sentia as coisas de maneira diferente. Abraçava as árvores e sentia algo que por uns tempos pensava que tinha sido o meu pai a colocar algo para proteger as oliveiras - hoje eu sei que o que sentia era a presença da existência daquela árvore. 

Nessas senhoras e senhores, eu ficava sempre numa postura e observador e questionava tudo - se se falava em alguém que supostamente tinha partido, eu questionava ao detalhe e perguntava como o está a ver... se eu não vejo assim...

Saturado de ser visto como um menino 'especial', zangava-me com Deus, nas minhas orações diárias, pois quanto mais me aproximava de algo que parecia verdade... mais me eram fechadas as portas.

Deitava-me debaixo das alfarrobeiras e cantava melodias que saiam sem nexo e sem identificação a algo que existisse (o que hoje eu chamo som da alma).
Sempre que abria os olhos, estava rodeado de vários animais que noutra circunstância estariam a perseguir-se. Aprendi a linguagem da Mãe Terra e escutava o seu coração sempre que podia. Falava com os pássaros e nutria uma paixão avassaladora pelos momentos em que tinha de limpar o pombal, onde me era permitido estar e ser com o 'cucrrruuuu... cucurrruuu' dos pombos. As estradas das formigas eram o meu passatempo... 

Aos 16 anos acreditei que era Jesus e sai à rua a falar como ele. Via com os olhos de Jesus, sentia com o coração de Jesus, tocava com as mãos de Jesus. Usava gestos e palavras como Jesus. Exactamente o que sinto hoje ainda - mas naquela altura eu não tinha preparação para entender o que estava a acontecer comigo - e hoje, pelo menos acredito que tenho uma explicação para isso...

Aos 33 anos despertei e encontrei a Paz - que apenas se revelou o primeiro de todos os passos - sei que foi no momento do despertar em que comecei a caminhar em mim e a aceitar e a amar esta presença que tanto tem de Jesus como tem de Francisco - o nome que chamam por 'engano'.

Mas, tudo isto é meu... tudo isto sou eu... tudo isto é o que apenas eu sei que sou e acredito sentir e manifestar.

Ao longo desta jornada de vivências e experiências que me empurraram para o que sou hoje - acredito que a Mediunidade é o estado natural individual e único, pertencente a cada existência que está na origem do sentir e na percepção. A capacidade de ser a totalidade da existência do individuo. Onde não existem barreiras para a expansão do sentir.

Ninguém nasceu para ser médium - todos somos médiuns.
Ninguém nasceu para ser messias ou salvador - todos o somos.
Ninguém nasceu para ser especial - na existência única e individual - todos o somos.

Quem se tornou 'especial' ou foi visto como tal pela sociedade, simplesmente se destacou pela capacidade de aceder à totalidade da sua existência - onde não existe espaço para a crença, nem muito menos para a vivência 'falsa'!

Convido a todos os que questionam e se encontram nesta procura a estarem e serem comigo. A questionarem-me e a perceberem o que me faz acreditar assim. 

Na verdade, quando desocupamos a existência da mente, percebemos que somos o infinito, o perfeito, o tudo e o nada, onde o termo 'capacidades' ou 'ser médium' é a condição natural da existência aqui.

Como nos desenvolvemos neste campo tendo por base o recalcamento, o medo, o ego - o que é natural, tendo em conta a nossa história como humanidade - criámos uma ideia da mediunidade deturpada. Ao chegarmos à verdade primordial percebemos que não se justifica todas estas crenças ou manifestações, porque afinal somos todos Deus.

Ah, e mais um detalhe - por mais que te custe assumir e encarar - a verdade é que só tens esta possibilidade de vestires a personagem que estás a vestir. A velha história de reencarnações, em que prevê uma continuidade em que se vai saldando 'dívidas cármicas' - isso é tudo uma criação do homem, para se manter no controlo e na ordem racional da ilusão da segurança.

Seremos apenas fragmentos... retalhos de memórias enevoadas... sensações de reconhecimento como 'o nome debaixo da língua'... mas nunca mais iremos vestir este papel.

Não percas tempo - encara e sê a verdade apenas!

Estou aqui disponível para te dar a mão.

Mas lembra-te que tudo isto que eu sou - pode ser loucura, ou estado de amor em alucinação - mas enquanto o for, será isso que me move e será isso que afirmarei!

Abraço-te em paz

JC

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