25 de abril de 2019

Liberdade

Hoje, 25 de Abril, comemoramos o dia que se assinalou como o 'dia da liberdade'. O dia que ficou marcado pelo fim da ditadura e o inicio da democracia. 

Mas até que ponto esta liberdade é real? Até que ponto esta liberdade conquistada não está condenada pelo medo inconsciente de mentes e almas que insistem em seguir o 'sistema' do 'certo e errado'? Até que ponto, esta liberdade conquistada nos trouxe de volta à essência do humano que somos aqui? E afinal de contas, após todos estes anos, qual é a conclusão que tiramos desta liberdade alcançada? Não será a 'democracia' uma simples variante de uma ditadura egóica disfarçada? Não será esta liberdade, apenas uma oportunidade de elevar egos antes abafados?

Não, não concordo com a ditadura, se é isso que estás a pensar. 
Aliás, como experiência pessoal em Cuba, que segue o regime comunista ditador, foi e é-me permitido viver a experiência do que é a falta de liberdade de expressão e uma vida condicionada por algumas vozes que comandam a sociedade e se apoderam do que há de melhor.
Passar 22 dias sem alguns bens essenciais que aqui conseguimos facilmente, obriga-nos a reavaliar a nossa condição actual e a perceber como o ser humano se mantém à mercê de crenças e sistemas enraizados.

Antes do 25 de Abril, em Portugal, não se podia expressar opinião. Não se podia falar mal do governo. As raparigas não estudavam junto com os rapazes. Para uma mulher sair do país em missão de trabalho, tinha de ter autorização escrita do marido e mesmo assim era difícil. Não havia dinheiro, nem alimentos em quantidade como conhecemos hoje. A vida fazia-se acontecer à volta da subsistência diária e da gratidão pela possibilidade de viver mais um dia.

Engraçado pensar que, com tão pouco, não existiam tantas depressões como existem hoje!
Porque 'coração que não vê, coração que não sente' - só o facto de não conhecermos uma outra possibilidade que não a que vivíamos, dá-nos a capacidade de nos conformarmos com o que temos. Algo que se vê em Cuba de Fidel nos dias de hoje - apreciação e valorização da vida simples diária.

Com a liberdade perdemos a noção do limite e extrapolamos a fronteira do 'normal', passando ao extremo do que é excêntrico e fora do vulgar. Perdemos a conexão com a essência do básico e apoderá-mo-nos da ideia falsa que tudo é garantido e está à mão. Desenvolvemos hábitos irresponsáveis maltratando o planeta com ambições sem precedentes. Caímos no 'buraco negro' das depressões, tornando-as naturais e associáveis à condição 'normal' humana. Perdemos a satisfação e felicidade pelo 'agora' e aprendemos a construir castelos ansiosos num futuro quem nem sabemos que vai existir. A ambição desmedida, ocupou o que antes era o lugar da celebração e gratidão...

Saímos de um extremo e passámos ao outro.
Ao olhar para a sociedade portuguesa pós 25 de Abril e, sabendo um pouco do que é uma ditadura pelos anos que vou a Cuba consecutivamente e vivo a realidade daquele povo, (desde 2007 vou todos os anos), chego à conclusão que o que precisamos é de uma REPÚBLICA DE MODERAÇÃO CONSCIENTE. Algo que se situe entre o espírito de organização de subsistência e valorização do básico e a profunda gratidão pela abundância a que estamos destinados a usufruir em moderação.

Não faz muito sentido comemorar uma liberdade tal, se após a ditadura entrámos numa condicionante desesperada em satisfazer os caprichos do ego colectivo. Hoje, por exemplo, alguém que não tem um emprego... alguém que não tem um bom ordenado, uma posição social determinada ou um determinado património, não é digno de respeito e valorização. Então, estaremos a criar uma ditadura de liberdade condicionada!!? Faz sentido o que estou a escrever?!!!

Hoje, celebro a memória de que neste dia há 45 anos atrás estava a um mês de nascer.
Vivi a revolução na barriga da minha mãe. As suas preocupações quando o meu pai ficou preso no Algarve. A suas vibrações de justiça e desejo por uma realidade diferente.

Sei que em mim habita de alguma forma um espírito que também é revolucionário. No entanto, tive a sorte de encontrar o equilíbrio e proteger-me do ego envaidecido. 

É apenas uma partilha neste dia, que celebro pela tomada de consciência do que sou e do quero daqui!

Abraço-te em paz 🙏

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